sábado, 30 de maio de 2015

Lago Titicaca, Uros e Amantani

Uros, a primeira ilha em que aportamos

A primeira vez que ouvi falar do Lago Titicaca eu trabalhava na Revista Kalunga. Era matéria do Pablo Villarrubia Mauso, freela, que rodava o mundo fazendo esse tipo artigo. Quando as fotos chegaram fui a primeira a ver (na época em que e-mail não fazia parte da nossa vida, era pelos Correios mesmo que chegavam as fotos - cromos - e eu, como secretária de redação, era quem recepcionava) e eram lindas, fascinantes e, para mim, algo tão distante da minha realidade.

Rs, é engraçado a minha percepção hoje, do que na época imaginava ser "algo distante da minha realidade". Pois sou da opinião de que tudo, absolutamente tudo nesta vida é possível, desde que realmente desejemos. No caso, não foi algo que desde aquela época sonhava em conhecer, mas, aconteceu de uma forma bem real. Anos depois de eu ver em primeira mão aquelas fotos incríveis... lá estava eu visitando o Lago Titicaca, pronta para uma experiência única: passar um final de semana com os peruanos, dormindo na casa deles, comendo da comida deles.

O ônibus de Cusco para Puno sai às 22h e tem duas companhias que fazem esse itinerário, a viagem dura aproximadamente 7 horas (sem parada) e preço da passagem S/ 80. As poltronas são semi-leito e bem confortáveis.

No porto, em Puno, pronta para a jornada
No meu caso, contratei uma agência de viagens em Cusco e, ao chegar na rodoviária, havia alguém nos esperando que nos levou até um hotel, e volta das 8h foram nos buscar para o porto, onde se iniciaria o passeio. Para quem vai por conta, na rodoviária tem várias pessoas abordando os turistas, o passeio de dois dias, uma noite em casa de nativos, jantar e café da manhã inclusos, sai ao preço de S/ 75.




Uros, ilhas flutuantes

Aqui, o presidente da ilha explicando o funcionamento
Chegamos ao porto e já fomos para o barco que nos aguardava com outros turistas. Depois de nos acomodarmos, o barco simplesmente não funcionou e trocamos de embarcação, quando finalmente começou nossa jornada, em que a primeira parada seria em uma ilha flutuante, denominada Uros.

O passeio pelo Lago Titicaca até chegar à ilha flutuante que nos aguardava durou umas duas horas e foi bem interessante saber que estava no lago navegável mais alto do mundo. É uma sensação do tipo: "Uau, estou fazendo algo diferente mesmo, é único no mundo!".

O guia explicou que na região existem mais de 80 ilhas daquelas, em que vivem de cinco a oito famílias que erguem, mantêm a ilha e ali vivem caçando, pescando, fazendo artesanato para vender aos turistas. Na verdade, essas ilhas vêm de uma cultura secular, tanto peruanos e bolivianos que vivem no lago as tem como forma de vida. Algumas ilhotas são específicas: só para escolas outras para lazer, por exemplo, com campo de futebol ou vôlei, que segundo a informação do presidente, é onde passam as folgas e socializam, conhecem seus pares etc.

Passeio na canoa feita de totora, S/ 10 

O artesanato é bem feito e ajuda a economia da pequena organização

Totora, com um molhinho até vai
Sim, cada ilha tem um presidente, e é ele quem determina se o local será aberto à visitação ou não. É importante dizer que a vida útil dessas ilhas é de 30 anos, e há um rodízio na presidência. Quando recebem turistas, ele é o encarregado de mostrar como são construídas com essa vegetação que nasce no lago, conhecida como totora. Com a totora faz-se de tudo, o piso, os barracos, artesanato, canoa e até mesmo serve como alimento. Eu provei e achei que tinha gosto de nada, tal qual como chuchu. Mas, se for para sobrevivência, numa necessidade, eu comeria.


Amatani, a experiência peruana


Pôr do sol no Santuário Pachatata

Aportamos em Amantani (ilha de verdade) por volta de 15h, e lá estavam o que seriam nossos anfitriões nos aguardando, devidamente vestidos para a ocasião (nos trajes típicos peruanos). Nós visitantes fomos distribuídos em até quatro pessoas por casa. Eu, Rohit e mais um casal belga fomos recepcionados por Faustina.

Ainda no barco, o guia passou as orientações básicas sobre o roteiro em Amantani: "Os horários para conhecermos a casa, o passeio, o jantar e o baile são rigorosos porque não há iluminação noturna, quem tiver lanterna irá usá-la no caminho. Na manhã seguinte também acordaremos bem cedo. Não há lugar para tomar banho e como o banheiro fica fora da casa, sempre haverá um penico embaixo da cama, no caso de uma necessidade noturna". Empolgada com a experiência, acho que não me atentei a alguns detalhes, e naquele momento pensei... ok, minha saúde higiênica será salva por lencinhos umedecidos e Trident. Por um final de semana, não será nada demais.

Subindo para Pachatata

Ao sermos apresentados aos nossos anfitriões já seguíamos para as casas para cumprimos o roteiro e, mais uma vez, andamos - rs - bem, trata-se de uma ilha montanhosa e acho que depois de tanto passeio de barco tinha me esquecido disso. É que os peruanos, já tão acostumados com a altitude e morros, andam rápido e todas as vezes que Faustina saia do caminho, à direita ou à esquerda, pensava: "Ufa, a casa está ali". Não, foram pelo menos uns quatro "ufas" até chegarmos.

A casa como era muito simples, como o esperado. Com dois pisos, embaixo onde vive a anfitriã e seu irmão (que não vimos) e deve ser composto por dois quartos, a escada de madeira e no estilo improvisada fica do lado de fora e vai para os dois quartos para hóspedes, a cozinha fica à parte da mesma forma que o banheiro que, na verdade, era só um cubículo com o vaso sanitário, nada de chuveiro, pia ou coisa do tipo.

Chegamos, guardamos nossas coisas, almoçamos uma deliciosa sopa, um prato de legumes (batatas! hummm) com chá natural e somos para o nosso local de encontro para fazermos mais uma trilha cujo auge seria admirar o pôr do sol no topo da ilha. Estava ansiosa.

O objetivo era chegar até o Santuário Pachatata, com a possibilidade de andar mais um pouquinho e antes passar por Pachamama. Mas gente, mesmo para quem está acostumado é puxado, e nos contentamos em andar no ritmo em que nos permitia contemplar toda a paisagem e vermos os suvenires que são vendidos ao longo do caminho- mais uma desculpa para retomar o fôlego - assim, chegamos em Pachatata a tempo de apreciar o pôr do sol. E compensou muito!

A volta, só descida, foi bem mais suave pois o caminho é bem feito com pedras, como se fosse uma calçada, o problema é que já estava escuro. Chegamos na casa, tomamos mais uma sopa com chá e Faustina nos explicou que tal qual em Uros, há um rodízio de recepção dos turistas, que os próximos que ela receberia em sua casa, só dali dois meses, nesse meio tempo, ela vivia de comercialização do artesanato que fazia - aquelas mercadorias que tanto vimos ao longo do trajeto para Pachatata.

Sem descanso, nos vestimos com os trajes e fomos ao baile!

Faustina e seus hóspedes que pagaram o mico do ano - rs
Adorei, dancei o que meu fôlego permitiu. O ritmo é intenso e acompanhar exige muito, mas acho que até me sai bem, porque os outros turistas chegaram a me aplaudir - rs. Senti até calor. Já mortos, voltamos à casa para dormir.

Quando me interessei pelo passeio, confesso que imaginei que a casa seria até mais rústica, mas no nosso quarto havia três camas no tamanho "viúva", um armário, uma pequena mesa e até uma lâmpada! De imediato achei que estava tudo muito bom, pois, como viajante já dormi em tantos lugares não apropriados, mas o fato é que não dormi bem por uma única razão, acho que a casa era inclinada, não havia jeito, eu deitava e dois minutos depois estava escorregando na cama. Daí, no meio da noite deu aquela vontade de ir ao banheiro e comecei a procurar embaixo da cama o tal penico... não tinha. Sair no meio da madrugada, naquela escuridão para ir ao banheiro foi difícil.


Taquile, outra ilha para visitar e almoçar

De Taquile, a vista do Lago Titicaca

Antes da 7h da manhã já tínhamos tomado café (tinha Nescafé! Achei o furo do passeio, até então tudo tão natureba e Nescafé? Como assim?) e estávamos caminhando rumo ao porto, pois agora visitaríamos a ilha de Taquile, onde almoçaríamos e voltaríamos a Puno.

Mais trilhas, andanças, mas tem uma ótima infraestrutura para quem não está lá muito acostumado a caminhas e paisagens belíssimas.

Apesar de tudo simples e rústico, achei as habitações bem distribuídas
Achei isto na praça central, meramente decorativo,
desde quando Nova Delhi e Rio de Janeiro estão na mesma direção?

Primeiro passamos pela praça central onde tem um mercado de artesanato e restaurante. Em seguida formos para o restaurante, onde alguns jovens peruanos já nos esperava para fazer apresentação de dança típica da agricultura e sobre como utilizavam a flora para a higiene. Também falou dos gorros dos rapazes: só vermelho, casado; duas cores, solteiro. No caso das moças era o tamanho do pompom da roupa, pompom grande, solteira; pompom menor, casada.

Apresentação folclórica...

... antes do nosso esperado almoço. A turma estava faminta!

Havia vários grupos de turistas. No meu grupo era bem divertido, eu era a única brasileira (o que não foi raro nos outros tours, sim, eu ouvia português quando andava pelas ruas em Cusco, mas nos tours que fiz, nunca encontrei outro brasileiro), tinha uma italianada alegre, suíços, canadenses (a maioria), estadunidense, neozelandeses e chilenos.

O almoço não estava incluso no pacote e foi S/ 20 por pessoa, mas valeu à pena. Depois, voltamos ao porto para a viagem de despedida ao Lago Titicaca.

Nenhum comentário: