quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Tricoterapia

Eu faço tricô e, de certo modo, até me orgulho disso. Tem muita gente que me conhece e que não consegue associar o ato de tricotar à minha figura, já que não faço o estilo dona de casa ou vovozinha.

Tudo começou quando eu tinha uns 11 anos e passei a freqüentar uma lojinha - perto da escola - onde a pessoa comprava o material (lã e agulhas) e a dona ensinava. Não me lembro se por iniciativa própria ou se a minha mãe (que não sabe tricotar) decidiu por mim. Acho que fui uma semana e não gostei do ambiente: várias donas de casa, tricotando e fofocando. Não tinha nada a ver eu ali. Resolvi não ir mais.

O problema é que a mulher me ensinou apenas os dois pontos básicos: tricô e meia. Não me falou como fazia para colocar a lã na agulha, como fechar o ponto. Nada. E a única coisa que tinha conseguido produzir era algo que lembrava - de longe e no escuro - um protótipo de cachecol. Guardei tudo e esqueci do assunto.

Anos depois, andando pela calçada, encontrei um pedaço de papel com três imagens desenhadas, que simulavam a colocação da lã na agulha. Peguei o papel e chegando em casa tentei fazer... e não é que deu certo!? Desmanchei o tal cachecol e resolvi fazer uma blusa. Assim, sem seguir receita, só com a minha imaginação. Quando chegou no final, eu não sabia fechar e nem conhecia ninguém que tricotasse. Mais uma vez, guardei tudo.

Mais alguns anos, fui passar uns dias na casa de uma prima, no interior de São Paulo e, para minha surpresa ela tricotava, quase compulsivamente. Havia peças tricotadas pela casa inteira. Aproveitei a oportunidade e pedi para que me ensinasse a fechar o ponto e a fazer a gola.

Pronto. Assim dei início a minha primeira produção: fiz blusa bege, cinza, vermelha, verde, preta, grande, pequena e, naquele inverno, a família inteira ganhou uma blusa em tricô.

A única explicação que achei para tantas blusas é que eu estava recuperando tantos anos de frustração de começar algo e não terminar. E mais uma vez, recolhi o material e passei anos sem nem lembrar no tal tricô.

Em 2004, torci o tornozelo, o que me rendeu uma semana de perna engessada. Era uma época bem fria do ano (junho ou julho) e a única coisa que eu poderia fazer era ficar deitada assistindo TV. Pois bem, lembrei do tricô. Daí surgiu minha segunda grande produção.

Como tinha muito tempo livre comecei a fazer conjuntos de cachecóis e tocas. Não satisfeita achei que poderia fazer luvas. Sim, luvas. Foram vários experimentos até chegar ao jeito de se fazer dois tipos de luvas: com dedos e sem dedos. E mais uma vez a minha família foi beneficiada.

Neste ano, olhando meus cachecóis, achei que estavam muito fora de moda... e... adivinhem...? Cachecóis para todos! Como não tinha mais para quem fazer cachecol, resolvi fazer um vestido de linha. Minha primeira experiência com linha. Mais uma vez sem receita.

Uma amiga sempre me pergunta: "Sandra, mas você demora tanto tempo para fazer, depois desmancha. Não seria mais fácil comprar uma revista e copiar um modelo?"

Não, não é. Pois eu não faço tricô para vender. Eu faço como forma de terapia. Gosto de inventar o modelo, me agrada muito saber que no mundo inteiro, eu fiz algo realmente diferente, com a minha marca (com exceção dos cachecóis, porque eles realmente são muito parecidos - mas bem-feitinhos). Sim. Eu descobri isso. Eu tricoto assistindo TV, conversando, e até lendo (acreditem!). Eu passei a analisar isso, todos os períodos que eu tive uma produção intensa, eu controlei melhor minha ansiedade. Na verdade eu passei até a pesquisar sobre o assunto, e para meu espanto, há até homens que praticam a tricoterapia como forma de desesstressar. Portanto, hoje, se tenho vontade de tricotar, eu tricoto.

E que ninguém venha me chamar de vovozinha!

Um comentário:

Cacau Peres disse...

Poxa, da próxima vez que nos encontrarmos, eu quero um cachecol!!! Eu amo cachecóis, xales e afins! De lá, linha, qq coisa!!!